E no dia seguinte…

Gap Filosófico [Decodex)
3 min readOct 6, 2022

… ao primeiro turno, vem a sensação de medo, decepção, angústia, com o apoio ainda obtido pelo Presidente Bolsonaro nas urnas. Muitos senadores foram eleitos na promessa de apoiar o projeto vigente, que é sentido por muitos de nós como uma permanente violência simbólica que ronda ameaçadora, beirando sempre à violência física efetiva. Muito mais do que a preocupação com a governabilidade de Lula a partir do ano que vem, a preocupação é com a continuidade deste projeto, seja por uma eventual reeleição do Presidente, seja pelas mãos de seus apoiadores, que certamente continuarão marcando presença no discurso político.

Aqui, há uma importante observação a ser feita. A sensação de angústia remete fortemente ao medo e, por mais justificáveis que sejam seus motivos, o medo é, em si mesmo, irracional. O medo tolhe possibilidades, encolhe as ações e o alcance dos amedrontados, resultando, por fim, na concretização daquilo que era temido. Diante do medo irracional, os bons auspícios também tendem a ser ignorados: Lula tem uma vantagem numérica e receberá, muito provavelmente, transferência de votos dedicados a outros candidatos no primeiro turno, aumentando sua margem de manobra. Haverá, ainda, campanha, conquista de mentes e de corações, e a esperança em um futuro melhor é a chave para esta conquista.

Por isso, fazemos melhor quando pensamos que o Brasil — que já foi um país escravocrata, muito mais injusto e cruel do que é hoje — poderia passar por mil governos fascistas e mesmo assim sobreviveria para nos contar como um povo aprende suas lições paulatinamente ao longo da história. Fazemos melhor quando pensamos que o Brasil enfrentará seu destino, independentemente dos nossos medos, e este destino, por hora, não nos aponta para os calabouços dos DOI-CODI, mas apenas para o desafio seguinte.

Este desafio é o segundo turno. O momento em que nosso povo, uma maioria formada de identidades minoritárias e sofridas, deverá fazer o esforço heroico de olhar para dentro, encontrar seu próprio algoz e cuidar dele. Sim, pois o preconceito, o racismo, o machismo e o fundamentalismo não pedem correção, mas cura — no sentido mais amplo da palavra. E cura pede cuidado.

A conquista dos corações se dá com disponibilidade, bom humor, mas sobretudo através deste ato heroico de se importar com o outro e cuidar deste ódio que nos atravessa a todos. É aí que entra a esperança. Não se trata da esperança dos que se agarram ao madeirame de um navio naufragado na maré, mas da esperança que aquece os corações dos que navegam entre as tempestades simplesmente porque o mar os chama para a grande aventura que é a vida. A esperança que transcende eleições, política partidária, contextos difíceis e passageiros simplesmente porque permanece no ato extremamente político do existir e do resistir.

Desarmemo-nos com esta esperança. E bom segundo turno.

Italo gomes.

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