O primeiro ensaio: “Bom e Mal”, “Bom e Ruim”
A verdade do primeiro ensaio é a psicologia do cristianismo: o nascimento do cristianismo a partir do espírito de ressentimento, não, como se acredita, do “espírito” — um contramovimento por sua própria natureza, a grande revolta contra o domínio do valores nobres . (EH III, GM)
Uma nova História da Moralidade (seções 1–3)
Nietzsche começa recuperando sua discussão sobre os psicólogos ingleses no Prefácio. Ele elogia algumas de suas qualidades, especialmente sua postura desconfiada em relação ao cristianismo, platonismo e idealismo moral, bem como sua coragem em confrontar verdades indesejáveis sobre a moralidade (1). No entanto, Nietzsche prepara o terreno para sua própria abordagem genealógica ao afirmar que esses historiadores da moralidade carecem de “espírito histórico” (2).
Como assim? Para eles, a origem do termo “bem” encontra-se na utilidade de atos não egoístas, no elogio feito pelos beneficiários de tais atos. Com o tempo, porém, essa origem instrumental mundana foi “esquecida” e atos altruístas passaram a ser considerados intrinsecamente bons.
Na Seção 2, Nietzsche inicia sua história alternativa dos conceitos morais. A “origem real ” do bem deve ser localizada antes.
Embora Nietzsche possa apreciar o efeito “deflacionário” desse tratamento, ele acusa os historiadores ingleses de perderem outro tipo de história que mine sua suposição de que a bondade moral seja equivalente a este certo sentido utilitário quanto a emergência de valores altruístas; de fato, tais valores eram históricas reações contra essa medida anterior de bondade. Aqui Nietzsche avança quanto à perspectiva de que as estimativas morais foram originalmente uma província de status aristocrático.
O que foi inicialmente considerado “bom” em uma dada cultura humana não eram nem atos altruístas muito menos a partir de um sentido utilitário, mas sim uma delimitação sobre a égide nobre de um “pathos da distância” de tipos baixos e comuns na sociedade.
1 Com relação à obra de Paul Ree, as primeiras investigações de Nietzsche aproximavam-se, na verdade, da posição de Ree (ver WS ). Ver Robin Small, ed., Paul Ree: Basic Writings (Urbana: University of Illinois Press,2003 ), pp. xi–liii.
Na moralidade nobre, a bondade era experimentada nos cenários de sucesso, poder e domínio sobre os inferiores, e não no “cálculo da prudência ou avaliação da utilidade” (2).
Assim, a origem dos valores morais deve ser encontrada em conceitos aristocráticos e hierárquicos de “bom e mau”, que denotam gradações de superioridade e inferioridade, nobreza e vulgaridade.
A noção de que a moralidade é fundada em ações altruístas só surgiu após o “declínio dos julgamentos de valor aristocráticos”, onde a própria antítese entre ações egoístas e não egoístas vieram gradualmente redefinir os valores morais.
Nietzsche atribuirá essa redefinição de moralidade ao surgimento da “moralidade dos escravos” e sua rebelião contra a “moralidade dos senhores” mediante escravidão ou subjugação.
Em todo caso, Nietzsche afirma que a visibilidade das origens morais aristocráticas foi encoberta pela predominância de valores de rebanho, e que mesmo o pensamento europeu contemporâneo sustentou o preconceito de equiparar moralidade com abnegação e desinteresse.
2 Em nossas discussões, iremos implementar a distinção mestre-escravo, embora em GM Nietzsche use o termo “moralidade nobre” em vez do termo “moralidade de mestre” que foi usado no BGE. A distinção mestre-escravo tornou-se um termo artístico( estético) — plástico nos tratamentos de Nietzsche, não necessariamente vemos diferença significativa entre “mestre” e “nobre”. Nietzsche menciona o termo “mestre” ocasionalmente em GM (por exemplo, Seção 5), e no Epílogo para CW “mestre” e moralidade “nobre” parecem ser termos intercambiáveis.