Pessimismo Político em Agamben e Michel Foucault como condição de uma Ética não comum.
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Autores José Gabriel, Alberto Kelevra ( texto sujeito a edições e modificações- correções)
O pessimismo de perspectiva política que exploraremos aqui refere-se a uma construção do mundo em que a ação política (política no sentido de influenciar decisões vinculativas de moldar o mundo de forma positiva construtiva) estaria necessariamente fadada ao fracasso; e neste sentido parece que estamos limitados a questões que se postulam através de políticas ineficazes ou inúteis. A questão de algumas consumações hegemônicas ou de teorias destes dois autores correspondem ao que chamaremos aqui de uma atribuição ao pessimismo político que se perfaz através de algumas inserções em suas obras e que de fato podem caracterizar o pessimismo em primeiro lugar. Um destes pontos pode-se dizer a partir de um construtivismo epistemológico que questiona sobre uma realidade de “textualidades específicas” diante da formação de teorias científicas e sociais. O ponto de partida da presente análise no artigo é a avaliação encontrada em algumas publicações/ trechos onde há nas obras de Foucault e Agamben acepções que expressam, em suas peculiaridades, uma forma específica de pessimismo. Essas avaliações como que se expressam como uma Ética não comum atribuída a um pessimismo são expressos através de cientistas proeminentes examinados por ambos ou possivelmente relacionados. Neste sentido, nossa tese é de que há a algumas formas de pessimismo que são expressas nos escritos de Foucault e Agamben que desembocam no que chamaremos de uma ética do não comum que é algo um pouco além de um mero pessimismo atributivo que desenvolveremos a partir das páginas a seguir.
Nosso ponto de partida será o de que o pessimismo e a sua contraparte, o otimismo,( jogo de pares de opostos) são observações contingentes que estão lado a lado com a pressuposição de uma certa igualdade de direitos.Tal equanimidade seria tratável de maneira concreta?Podemos tentar achar razões para tal equivalência, referente a posições igualmente deficientes diante do otimismo e do pessimismo, que podem ser concebidas de maneira mais ou menos simples: em primeiro ponto, coisas positivas e negativas geralmente são observadas e a ponderação dada ou ao que pode realmente ser percebido e apreendido concretamente é deixado ao critério de um observador individual ou diante um ponto de vista disseminado de maneira unilateral ( ideologicamente). Em segundo lugar, o otimismo e o pessimismo apontam para um futuro que é constitutivamente ideário e, portanto, não fixo. Uma frase atribuída a Winston Churchill, entre outros, aplica-se aqui: “As previsões são difíceis, especialmente quando dizem respeito ao futuro. No entanto, as interpretações pessimistas são, tanto na história das ideias quanto contra elas.” No contexto acadêmico a semântica do pessimismo só muito raramente serve para descrever algo ou alguém; ao invés disso, o termo é usado como uma noção de ordenação coletiva para desacreditar outras posições. Agamben todavia rejeita tal categorização, Foucault parece querer aceitá-la até certo ponto. Existem algumas demarcações para a noção de pessimismo, mas devido a demanda do nosso escrito trabalharemos majoritariamente com a seguinte; Como diz Michael Pauen diz “Em suma, ‘pessimismo’ poderia ser definido como uma interpretação metafísica ou histórico-cultural que, num contexto cosmológico ou histórico-filosófico, chega a uma avaliação radicalmente negativa do que existe.” Este ponto traz consigo outras situações, tipo: O que significa radicalmente negativo? O Radical mesmo quando pode ser entendido como uma visão de mundo que “vai à raiz”, apesar disso quando é que uma posição é tão assertiva? Quando é que há o estabelecimento do limite para que o radicalmente negativo seja ultrapassado? Como podemos estabelecer seguramente o diagnóstico do pior de todos os mundos possíveis? E uma outra pergunta mais fundamental: como é criada a realidade que uma tal teoria almeja descrever? Tendo em vista tudo isso até o presente momento pressupomos não existir nenhum estudo científico sistemático sobre a questão de saber se Foucault e Agamben permanecem em uma certa tradição do pessimismo, mas sim existem comentários marginais em tratados científicos que rotulam um deles ou ambos os pensadores sendo atravessados por uma espécie de pessimismo cultural e, portanto, sendo colocados em um contexto específico de combate na história das ideias ocidentais por vistas de duas noções políticas conflitivas entre destituição e conservação histórico-político-social.
Michel Foucault
Podem ser encontradas respostas ambivalentes semelhantes à questão de saber se a perspectiva de Michel Foucault sobre a modernidade é uma expressão de uma atitude (cultural) pessimista ou conduz a uma. A autodescrição de Foucault a esse respeito é a seguinte: “Meu ponto de partida não é que tudo seja mau, mas que tudo seja perigoso, o que não é o mesmo que mal. Quando tudo é perigoso, sempre temos algo para fazer. É por isso que a minha posição não conduz à apatia, mas ao ativismo hiper e pessimista.” É possível que haja um total pessimismo que nos deixe opções de ação? Outro apontamento interessante entre otimismo e pessimismo pode ser encontrada no texto introdutório a Foucault de Philip Stokes e Paul Whittle, onde dizem que todavia o trabalho de Foucault tenha uma perspectiva por vezes sombria e pessimista, há um espaço para o otimismo. Neste sentido, como o otimismo e o pessimismo podem ser teoricamente reconciliados ou será que há um afastamento completo de ambas as perspectivas?
Jürgen Habermas neste sentido torna-se crítico de Foucault e aponta o seu pessimismo. Sendo o principal representante da segunda geração da teoria crítica( Habermas), o filósofo francês aparece-lhe como um “desapontante desertor” que, com a sua teoria do poder, segue o “pessimismo burguês de Hobbes a Nietzsche”. Segundo Habermas, o trabalho de Foucault é uma espécie de “síndrome de renegação da esquerda”, que tem muitas sobreposições com o neoconservadorismo:
“O padrão de pensamento é sempre o mesmo: no universalismo do Iluminismo, no humanismo dos ideais de libertação, na reivindicação de razão do próprio pensamento sistêmico, há uma vontade de poder tacanha, que tira a máscara assim que a teoria está prestes a tornar-se prática — por trás da qual emerge a vontade de poder dos mestres pensadores filosóficos, os intelectuais, os transportadores de significado, em suma: a nova classe. Foucault não só parece representar estes motivos bem conhecidos do Contra-Iluminismo com um gesto radical, mas também os aguça de uma forma crítica e generaliza-os em termos de teoria do poder.”
Curiosamente, tal recorte teórico de Foucault é muitas vezes interpretado como uma continuação do trabalho da primeira geração da Escola de Frankfurt: Foucault, por outro lado, segundo Gerd Sebald e Jan Weyand,ao mesmo tempo“relativiza e radicaliza o pessimismo de Adorno”. Ao que nos parece as tentativas de distinção de Habermas não visam apenas uma distinção de pressupostos teóricos pós-estruturalistas(o que é uma questão importante para com o conflito de Foucault em relação ao estruturalismo desde Arqueologia do saber, e não resolvida), mas evocam de alguma forma um afastamento do legado intelectual de Horkheimer e Adorno. Rorty também entra na mesma seara de composição habermasiana(em relação a Foucault) de forma incisiva. Aquele que é entendido como quem erigiu o pragmatismo político também supõe que a crítica de Foucault ao projeto da modernidade seria uma forma de pessimismo que se perfaz enquanto herança de uma “tradição nietzschiana” ( algo que é próximo ao que Alasdair Mcintyre fala em Depois da virtude mediando uma fusão weberiana-nietzschiana que destrói os ideais iluministas contemporaneamente necessitando segundo ele de um resgate das virtudes aristotélico-tomistas) e coloca-a (embora) infundadamente ao lado de outras que considera dignas de crítica:
“Se concordarmos com Nietzsche e Santayana neste ponto, isso não nos dá automaticamente uma razão para agir como Nietzsche e virar as costas ao projeto de iluminação. Nem nos dá razão para expressar um pessimismo sardônico sobre as perspectivas deste projeto, à maneira dos admiradores de Nietzsche, Santayana, Ortega, Heidegger, Strauss e Foucault.”
Apesar de tais apontamentos para nós ainda não está claro o que há de específico no pessimismo de Foucault,( rejeitar parcialmente o Aufklarung que retoma em sua famosa fase ética?). Assim como uma atitude pessimista que se enquadra no seu trabalho ou como o otimismo e o pessimismo interagem e como o compromisso político de Foucault se relaciona mediante a produção de uma Ética não comum que é nosso objeto de apontamento aqui entre estes dois autores. Podemos olhar para um certo processo genealógico existente nos escritos de Foucault, onde parece surgir a questão de saber se foi feito um reajuste teórico no final da década de 1970 em função disso ( como disse anteriormente o surgimento de sua suposta fase Ética) que acrescentaria uma opção de escape a esta crítica à modernidade em sentido estritamente genealógico( associada a nietzsche por seus algozes teóricos), que, se não abolisse, pelo menos mudaria o seu pessimismo político atribuído a uma herança totalizada por uma visão pormenorizada de atribuição feita a sua influência nietzschiana .
Dentro deste contexto entendemos que basicamente foucault evoca uma oscilação de herança nietzschiano-hegeliana principalmente na fase mais madura de suas palestras em college de france ( por mais estranho que isso possa parecer) onde compreendemos que a história para além do apontamento do seu pessimismo, é um processo metafísico instituído e que pode ser destituído dentro de um certo recorte histórico e de uma recomposição concreta da história ( reflexão que já trás desde a arqueologia do saber) e isto aqui não se trata de uma relativização dos processos históricos como objetos (ina)apreensíveis mas de conceber que por mais benfazeja que seja tal perspectiva histórica com sentido de um tipo de senso de reparação histórica há sempre um aspecto tangenciável da história-antropologia que é necessariamente disputável filosófica e epistemologicamente e isso suscita uma necessidade presente de um certo tipo de pessimismo( negação compensatória) ou ainda de uma investigação mais acurada da formação daquelas bases tornadas institucionalmente normativas em um certo recorte epocal, dito isto parece que há uma posição de um pessimismo situacional necessário metodologicamente em oposição constante ao que tradicionalmente se estabelece de forma política que visa uma materialidade de fato em sentido persecutório, inclusive mediante as suas capacidades de construção deliberada mais autônoma, coletiva9 objetiva) e ( subjetiva)particularmente( isso aqui bem anti-hegeliano, mais próximo da dialética stineriana) .
Giorgio Agamben
Giorgio Agamben é um dos filósofos políticos mais discutidos da nossa contemporaneidade, assim como o próprio Foucault, seus escritos são interpretados ou criticados como pessimistas. Oliver Marchart, por exemplo, descreve a crítica do filósofo italiano à modernidade como resultando numa visão pessimista da história devido à abordagem metodológica: “Embora, ou talvez precisamente porque, Agamben se recuse a traçar a genealogia histórica do seu paradigma, ela surge sob ele temos em mãos uma filosofia da história radicalmente pessimista.”Martin Saar julga de maneira semelhante, segundo a qual “[…] Agamben, com um pessimismo igualmente impiedoso , desenha um cenário de sujeição radical do sujeito moderno a um poder e a um poder jurídico ordem que afecta a própria ‘mera vida’”Georges Didi-Huberman Interpreta a posição de Agamben da seguinte forma: “Mais recentemente, Giorgio Agamben reforçou este pessimismo político, desde os seus escritos sobre a ‘destruição da experiência’ até às suas análises de ‘dominação ‘ e a ‘Glória’.” Contudo, estas avaliações são articuladas de forma breve sem discutir detalhadamente os escritos de Agamben. Entendemos que tal como acontece com Foucault, tais apontamentos são rarefeitos mediante um pessimismo que tem uma ampla gama de conteúdos e conceitos implicados, ou seja, são determinações imprecisas, e a semântica do pessimismo serve principalmente para um caráter de distinção, como faz Habermas com Foucault de maneira insustentável na nossa percepção. Já Agamben parece pretender por sua vez, distanciar-se veementemente de tais objeções ou acusações. Em entrevista à revista “Cícero” refere-se a isso estritamente, quanto à acusação de ser um pessimista;
“As pessoas às vezes dizem que sou muito pessimista. Eu não entendo isso. […] Não sou nem um pouco pessimista. No entanto, desconfio um pouco dos sentimentos que são bons demais.
Nos parece inclusive haver aspectos nos escritos de Agamben, como uma esperança da redenção messiânica- imanente ( mas não redentora metafisicamente), que poderiam contradizer a tal conjuração pessimista, e por tal há interpretações que não concordam com a utilização de especificidades pessimistas em Agamben. Independente disso, Eva Geulen compreende Agamben como um pessimista mais volátil sem necessariamente chamá-lo disso, (explicitamente de pessimista). “Agamben pode ser acusado de usar um fantasma original romântico que supostamente nos libertaria da lógica da proibição, que se apresenta como uma história de declínio na política europeia […].No que concerne à filosofia política de Agamben, podemos suscitar a questão de como as construções de um mundo dominado pelo biopoder,(foucault) pela lógica excepcional e pelos imperativos econômicos podem ser conciliadas com uma alternativa política positiva à forma de vida baseada em esperanças messiânicas- concretas, ou o que isso significa? A relação entre otimismo e pessimismo nesse meio de(des) construção mundial?
Precisamos reforçar mais uma vez um ponto aqui, no geral, este esboço da recepção de uma atribuição do pessimismo por Agamben mostra algumas características, dentre elas: O pessimismo é usado principalmente para descrever e criticar os outros ou teóricos destoantes( distingui-los). É claro que tais julgamentos são avaliações que também dizem muito sobre o espectador e suas preferências científicas de pesquisa e de metodologia. Acrescentamos ainda que inicialmente(desde o abstract)que o desenvolvimento que trabalhamos aqui é baseado na noção de pares de opostos ou antitéticos( entre pessimismo e otimismo) que nos perfazem algumas inspirações teóricas desde Jung, Sartre,Nietzsche e o próprio Hegel. Agamben claramente rejeita a noção de opostos e prefere a relação de contrastes para ele, não se trataria de uma relação de opostos, mas sim de semelhanças e contrastes entre as duas imagens o que nos parece em alguma medida sartreano(transcendência do ego) Hegeliano-Situacionista ( especificamente o uso que Guy Debord faz de hegel), onde não se trabalha exatamente com um estabelecimento rígido de oposição mas sim de constituição de posições refletidas ( até mesmo em Jung que é um pensador da cognição psicológica kantiana neste aspecto pensa em sentido arquetípico em uma implicação ampla da produção deste psicologismo). Então é nesta toada comparativa que prosseguiremos.
Falemos agora do ponto de mediação epistemológica que estamos referenciando enquanto apontamento daquilo que consideramos uma Ética não comum entre as possibilidades otimistas e pessimistas e que pressupomos existir diante as concepções de pessimismo e otimismo entre Michel Foucault e Giorgio Agamben, que a nosso ver podem ser atribuídas a mais uma contribuição basilar feita por Niklas Luhmann, segundo a qual ele diz que os meios de comunicação de massa não retratam uma “realidade”, mas criam a sua própria realidade com base nas suas observações. Diz ainda que os meios de comunicação de massa produzem um duplo sentido ou uma dupla realidade( bem debordiano): No primeiro nível, o significado para o sistema de meios de comunicação de massa surge através do que é impresso, transmitido. “Mas também se pode falar da realidade dos meios de comunicação de massa num segundo sentido, nomeadamente no sentido do que parece ser realidade para eles e através deles para os outros”. E ainda uma terceira diante: “ De uma transferência da tese do construtivismo da área epistemológica ou científica usual para a teoria dos meios de comunicação de massa.” Tal suposição construtivista pode também realizar-se diretamente para a formação de teorias das ciências sociais, das humanidades ou da própria ciência política. Segundo esta perspectiva tais teorias são comunicadas inclusive como textualidades formais tal qual este objeto desenvolvido aqui (monografias, ensaios, artigos, etc.) Mediante a nossa questão do conteúdo pessimista, esta investigação parte de uma hipótese de formulação ou modos de formulação epistemológicas, o que se torna fundamental aqui é essa questão de criar o seu próprio objeto da investigação em primeiro lugar( assim como foucault questiona o lugar do artefato como comprovação objetiva histórica). Todo texto científico cria sua própria realidade e se produz tautologicamente,diante do que é possivelmente observável “objetivamente”(modulatoriamente).
Parece ser este o caso aqui também. A autocriação do objeto é, obviamente, epistemologicamente inevitável e indiscernível ( tal qual concebia kant e como aponta Vaihinger) e, portanto, não deve ser particularmente problemática para um desenvolvimento científico paradigmático em termos fenomênicos ( nos termos estabelecidos por kant), mas há uma grande tentação de ler nos textos de pensadores como Foucault e Agamben uma provocação para fora dessa zona científica,( correlacional) ao explicitar tais limites da produção de saberes nestes termos, exatamente diante daquilo que se atribui como verificar ou falsificar enquanto evidenciação científica, mediante uma suspeita a qual são constantemente atribuídos de um pessimismo incurável.
No caso de Foucault, como brevemente apontamos, ele parece admitir uma certa “negatividade”. Por exemplo entre os escritos das décadas de 1960 e 1970 que performam críticas destrutivas, ou seja, os problemas globais são nomeados sem sequer considerar possíveis soluções: “Por razões que estão profundamente ligadas a uma escolha política — no sentido amplo do termo definitivamente não quero desempenhar o papel de alguém que fornece soluções.”
O que parece constante na teoria foucaultiana, principalmente deste período supracitado, é a problematização e a crítica da constituição do sujeito moderno. O padrão normativo de não-identidade evocado constantemente por ele é ironicamente reminiscente do próprio plano de vida de Foucault, que corresponde surpreendentemente ao contraplano de uma autoformação inconformista e inconsistente que ele próprio almejava. Pode-se concluir quase presunçosamente que o padrão normativo da teoria se dirige diretamente à intenção do autor, apregoa-se nele a contrapelo. O que parece nos evocar em Foucault é uma espécie de genealogia da evasão, descompromissada constantemente buscada por ele. Vistas sob esta ótica, as críticas e a indignação furiosa que ele atraiu são menos uma expressão de um anti-humanismo geral do que uma expressão de uma auto encenação situacional e lúdica porém concreta, colocado por muitas vezes como niilista, guerreiro genealógico ou romântico de conceitos ( anti)identitários., Foucault não queria ser apanhado como ingênuo ou alguém preso a uma forma, mas a reconstrução dos estudos sobre seus escritos mostra as muitas mudanças que o próprio Foucault explora em retrospectiva como “uma revisão constante”.
Dito isso traremos um trecho de Claire fontaine que faz alusão ao conceito retrabalhado de Parrhesia( παρρεσία) por Foucault.
A citação a seguir vem de uma interpretação de um dos últimos cursos de Foucault, Em seu último curso no collège de france, foucault, que não cessou de analisar as relações entre sujeitos, governo e verdade, convidava o público a exercer “a anarqueologia”, ou seja, a sacudir as familiaridades, os hábitos contraídos em condições de disparidade de poder que acabam por se estabilizar e por constituir um cotidiano aceitável. Nesse curso, Foucault também falou de “testemunho pela vida”, citando-o como um dos aspectos fundamentais do militantismo do século xix. O “testemunho pela vida” intervém onde há um saber sem poder, ou para ser mais exato, um saber contra um poder. Trata-se de uma forma de fazer valer um elemento ético, de trazer à tona a verdade pelo escândalo, utilizando a impossibilidade objetiva do diálogo, não submetendo-se a ela, mas virando-a em sua consistência não verbalizável contra o inimigo.
Nesse curso, Foucault também falou de “testemunho pela vida”, citando-o como um dos aspectos fundamentais do militantismo do século XIX. O “testemunho pela vida” intervém onde há um saber sem poder, ou para ser mais exato, um saber contra um poder. Trata-se de uma forma de fazer valer um elemento ético, de trazer à tona a verdade pelo escândalo,utilizando a impossibilidade objetiva do diálogo, não submetendo-se a ela, mas virando-a em sua consistência não verbalizável contra o inimigo. Foucault também estava trabalhando sobre uma modalidade específica da franqueza, a parresía, na qual o mais fraco sempre usa a verdade como uma arma contra o mais forte, por sua própria conta e risco.
tendo em vista tal citação de Claire Fontaine mais especificamente contida no texto Greve Humana por uma Prática de Liberdade aqui suscitados o que queremos dizer com a propensão de uma ética não comum entre Agamben e Foucault. A definição de parresia que é inspirada aqui nos estudos foucaultianos dos antigos por Claire Fontaine delimita-nos aqui uma posição interseccional entre pessimismo e otimismo para conjurar indicativos com aquilo que queremos trazer como práticas de ética ou de possibilidades éticas não comuns podendo até deram entendidas como “ (des)construtivistas” A parresia neste sentido é apreendida como o se colocar a risco inequivocamente pela inexorabilidade de um compromisso com as contradições que precisam ser ditas, para além de benefícios próprios ou coletivos ou ainda institucionais hierárquicos e de manutenção de posições mestre-aprendiz e coisas afins, a parresia deve ser praticada independente do que recaia sobre o seu proclamador independente se está ou não com a razão( validação), mas como sintoma de uma necessidade de mobilidade institucional das formas de se fazer política( dentro de um processo amplo entre institucionalidades e não institucionalidades), educação ( para além do formal) e tantas outras inter relações derivadas de demarcações do que é social( de herança sociológica) e dos saberes produzidos a partir de delimitações estanques teóricas e práticas. É inspirado neste conceito que entendemos que entre Agamben e Foucault se constrói uma possibilidade da ética não comum pois estamos numa etapa extremamente aprofundada dos paradigmas sociais estabelecidos por aquilo que Debord chamou de A Sociedade do Espetáculo. Que resulta num constante estado de passividade voluntária ( La boétie e Deleuze & Guattari reinterpretam) que assume perspectivas inócuas de otimismos normativos, como uma espécie de assistir suas próprias vidas “ o que aparece é bom e o que é bom aparece” em sentido amplamente apenas representativo ( vorstellung) é neste sentido que denominações permeadas por um habermasianismo só para exemplificar se perfazem no final das contas apesar dos seus contributos robustos do ponto de vista dialógico teórico numa reafirmação de uma( ou algumas) possibilidade(s) de uma modernidade que pode ainda atingir seu auge, mediante um apego inexorável a recuperação de um processo histórico que na verdade causou uma permanência paradigmática sustentada pela força da lei, da dominação e do peso do direito enquanto coerção social. Se não ficou claro a nosso ver as questões que parecem ser abordadas, apesar de suas nuances de variabilidade entre Agamben e Michel Foucault nos parecem próximas de algum modo ao que Denise Ferreira da Silva trás em A dívida impagável assim como em Homo Modernus, ( ela mesma clama por sua proximidade com Foucault no curso A luz negra) uma lógica da obliteração( uma forma antecedente já excludente) pela performance de um resgate contínuo que engendra noções simbólico- concretas dos paradigmas modernos que passam por Descartes, Kant, Hegel ( referente a noções dadas de interioridade- exterioridade de um eu transparente, de um dever -ser, e de um aparato institucional legislador prataformizador que suprassume a possibilidade de ruptura subsequentemente através de uma poiesis universal). São as imagens modernas que não cessam de se duplicar em concepções amplamente tautológicas e universalizantes no sentido equitativo não positivo, a própria noção de ciência moderna auto elege e encurta as nossas possibilidades científicas que têm sua eficácia sim mas que se tornam subservientes a um processo institucional parametrizado e amplamente excludente inclusive sem produzir uma real democratização dos saberes científicos de maneira ampla mediante vários processos de disciplinarização e compartimentação( alienação institucional).
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