Platão A República livro VIII e o Estado democraticamente tirano!

Gap Filosófico [Decodex)
6 min readApr 5, 2021

No livro VIII da república a análise que Sócrates faz diante dos regimes existentes consiste em uma interpretação de uma hierarquização de certos regimes políticos.

Neste sentido faremos um comparativo entre as possibilidades de dois regimes políticos que seriam a democracia segundo Platão e a considerada democracia contemporânea brasileira.

A prioridade de Platão em a república seria fazer os cidadãos felizes e para tal considerando a cidade como um indivíduo assim como no que concerne a este “indivíduo” a sua saúde ou doença.

Uma doença quando não bem tratada ou cuidada de forma adequada se transforma em uma doença pior, e consequentemente em um agravamento de uma enfermidade, o mesmo se pode dizer dos regimes políticos quando tratados de forma inadequada.

Neste sentido Platão faz uma
análise não histórica diante dos regimes mais perfeitos até o considerado por ele o mais imperfeito.

Fazendo um comparativo desde a cidade ideal platônica que será uma cidade supostamente sã, imaginar-se-ia um estado ideal que seria impossibilitado de inconsistências, dado que é ideal e no qual cada um ocuparia corretamente o seu lugar ( hierarquicamente no que concerne a teoria platônica), até ao pior regime
que seria a Tirania segundo Platão.

Porém neste contexto focaremos em especial na definição de democracia de Platão em relação ao seu estado ideal que seria a república contrapondo a realidade da suposta democracia brasileira.

Por definição um regime democrático para Platão seria; A Democracia é poder e governo do povo.

Este regime se deve à revolta dos oligarcas empobrecidos, isto é, os que já foram ricos e que ao empobrecerem perderam os direitos.

Não estão em igualdade de direitos com os pobres que, aliás, nem possuem qualquer direito, mas os privilégios de entes veem-se muito diminuídos.

Em geral, quem não tem nada habitua-se a viver com o pouco que tem, mas quem já teve alguma coisa, como estes oligarcas empobrecidos, revolta-se.

Para entrar na classe dominante de uma oligarquia há que ter o mínimo de riqueza, assim, quando um oligarca se vê privado dos privilégios vai contestar a situação e revoltar-se. Nas Democracias, todos os cidadãos têm hipótese de governar.

Numa sociedade todos os cidadãos têm em tese exatamente os mesmos direitos. Os dois valores fundamentais ligados ao regime democrático são a liberdade e a igualdade.

Nesta análise de Platão à Democracia, a liberdade e
a igualdade seriam características fundamentais da democracia, para este filósofo a igualdade é uma falsa igualdade, na medida em que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres e, isto para Platão não deve ser tido como verdade, pois não é verdade que os homens são iguais entre si.

Na democracia direta, na qual os cidadãos são homens livres e todos os cidadãos expressam a sua opinião, segundo Platão, isto seria totalmente
inconcebível pois nem todos podem ser tidos como sábios e neste sentido qualquer um poderia se manifestar e influenciar através de sua opinião, mesmo não sabendo do que se fala ou sua fala trazendo malefícios ao contexto geral.

Assembleias democráticas falam apenas de um determinado número de pessoas, que tendem a
ser sempre os mesmos, os que têm dotes oratórios, os que têm poder de argumentação e convencimento.

Assim, por muita razão que se tenha, se não dispor de argumentos válidos e que correspondam com o real não se deveria fazer prevalecer nestas assembleias democráticas através desta mesma razão.

A liberdade na democracia ateniense é caraterizada por Platão pela capacidade do exercício de cargos políticos, os cargos executivos que eram atribuídos por sorteio uma vez que os cidadãos eram considerados todos iguais.

Existia o princípio de que qualquer um é capaz de executar qualquer tarefa. Contudo, se olharmos para este princípio de outro modo, entendemos que ele leva ao princípio do amadorismo, na medida em que
nenhum dos cidadãos que executava funções tinha qualquer tipo de especialização. ( quaisquer coincidência com a realidade brasileira talvez não seja coincidência)

O grande problema da democracia é partir de princípios que estão errados, neste tipo de regime se deveria escolher pelo bem de todos, pelo bem geral e não pelo bem particular e isto não acontece na Atenas de Platão seja através do convencimento com pressupostos errados ou através da manipulação oratória por interesse.

Mas, a Democracia se faz um regime instável, na medida em que se baseia na “doxa” , sendo esta passível de ser reformulada pelos indivíduos.

Em resumo; o meio político que se constitui como a maioria na contemporaneidade, pensa de uma determinada maneira, mas, amanhã muda de opinião, de acordo com suas mudanças de interesses e não se comprometem com o bem comum ou com a felicidade almejada por Platão.

Esta instabilidade democrática, segundo Platão, leva a tirania porque, as pessoas pensam que só uma pessoa poderá resolver os problemas de todos.

Por vezes, são as democracias que elegem um tirano, este fenômeno não acontece apenas pela usurpação do poder pela violência.

Tirano seria aquele que governa sozinho com arbitrariedade total, sem qualquer tipo de leis fixas ou interpretando as leis fixas ao seu bel prazer.

Dentro desta concepção trazendo para a perspectiva da política executada em pleno ano de 2021 no Brasil será que não poderíamos inferir uma similaridade diante desta análise que Platão faz da democracia enquanto um equívoco de princípio?

Quando se fala em estado democrático de direito não estaríamos falando de mais uma utopia posta por aqueles que detém real interesse na crença de uma possibilidade de realização democrática?

Não seria a sofistica em termos platônicos do estado contemporâneo?

Ao verificar a situação degradante que já ocorre no nosso país desde algum tempo, mas que em nome deste suposto estado democrático atual( que clama por ditaduras passadas)e que se agrava principalmente diante de um estado de caos na saúde publica e que se, não pode ser responsabilizada pela origem do declínio da saúde pública da decadência social e econômica e pelo início da efetivação das mortes como consequência de uma força da natureza, a nível nacional, por outro lado podemos sim acusarmos este estado vigente pela permanência da morte como politica pública( necropolítica). Dito isto,como poderíamos dar voz a Platão neste contexto?

Seria relativamente verificável ao menos parcialmente que temos de dar razão a Platão ao menos diante da sua crítica a um estado democrático enquanto uma prática ludibriosa que tende a ser direcionada a um tirano por vias democráticas .

O discurso de supremacia ou soberania do estado democrático serve a interesses escusos de exclusão e eugenia social antipopulares que se passam por populares.

A permanência de Bolsonaro no Planalto é a garantia de que o sistema político brasileiro, o presidencialismo de coalizão e o jogo do alto capitalismo “familiar brasileiro” continua.

Diante deste contexto dos interesses políticos institucionais que passam longe da ideia de um bem comum, baseado em especialidades atreladas a cada desígnio de cada indivíduo por competência dentro do corpo estatal podemos dizer que;

As grandes facções da elite( miliciana) brasileira ou a elite dos discursos atrelados a supostas prioridades econômicas que internalizam seus interesses nas políticas publicas estatais, usam e abusam da mediocridade enquanto chafurdam no Planalto e estes interesses se confundem .

Enquanto isto o Brasil afunda, em uma
dimensão de suposta realização democrática que se faz presente sempre nos discursos políticos que se
confrontam e se combatem entre si, mas que permanecem, enquanto joguete de marionetes para dar um falso pano de fundo democrático ao entremeio político, através de uma ode a permanência das riquezas dos oligarcas a qualquer custo, nem um centavo a menos para eles, e morte a população vulnerável.

Mas e o bem comum e a realização das faculdades de cada indivíduo mesmo com suas divergências e impossibilidades como sugeriu Platão?

No Brasil atual não há a possibilidade de realização nem sequer do indivíduo, o indivíduo enquanto representação social, está sendo literalmente exterminado! Simplesmente passa a inexistir!

Pensar no estado como um indivíduo coeso e “ saudável "é totalmente equivocado aqui no Brasil, mesmo enquanto projeção a ser obtida.

Na realidade o que ocorre é o inverso, um determinado grupo de indivíduos se colocam como soberanos ao estado através da democracia, se tornando tiranos ( no estrito sentido platônico elencado acima) para monopolizar os poderes a seus interesses independente do mal funcionamento ou adoecimento literal das outras funcionalidades sociais e da população, para a manutenção do status quo de poucos as custas da infelicidade miséria e morte da maioria em número gênero e grau, com aparato normativo inclusive. Em nome da detenção do monopólio do poder.

Alberto Kelevra (Gap Filosófico)

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