SIMPLESMENTE HOMEM

Gap Filosófico [Decodex)
14 min readJan 11, 2024

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Relatos sobre a experiência cotidiana de Homens Trans, por;

LUIZ FERNANDO PRADO UCHÔA

Prefácio + Trecho da primeira Parte do Livro

A ideia de elaborar este livro reportagem surgiu em Brasília, na 3ª Conferência Nacional LGBT e na 12ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, que foram realizadas em conjunto, entre os dias 24 a 29 de abril de 2016, pelo fato de nestes eventos terem tido um aumento significativo da participação do segmento de homem trans, algo em torno de 30 indivíduos, de diferentes partes do país e em fases distintas da transição de gênero, faixas etárias, etnias, orientações sexuais, escolaridade e profissões, sendo que, nas edições anteriores dos eventos citados não havia adesão significativa desse grupo social.

Nos intervalos das atividades das palestras e discussões em grupos de trabalho, foi estabelecido um diálogo com estes indivíduos para se estabelecer o perfil das personagens e também conhecer as suas especificidades, com a premissa de se elaborar uma obra, em que os relatos facilitassem aos leitores a conhecer melhor um pouco da vida desses homens trans, de diferentes partes do país, para assim, compreenderem o quanto é sofrido habitar em um corpo distinto de sua essência.

Com o avanço das narrativas, elas passaram a ganhar novos horizontes, novas roupagens, possibilitando assim, ocorrer uma filtragem das entrevistas realizadas nos congressos e também em momentos posteriores, para a captura de informações adicionais, visando penetrar na intimidade dos protagonistas, e dessa forma, propor um olhar analítico acerca das vivências de pessoas que vivem presas em uma situação imposta pela biologia, e pela sociedade.

Um fator que motivou a criação do exemplar com esta temática, aconteceu no processo de pesquisa bibliográfica e de sites que são referências em diferentes masculinidades e que não foram encontradas obras que abordavam perfis de homens trans.

Somente três biografias e vários artigos acadêmicos foram encontrados. Com uma linguagem extremamente inacessível para pessoas desconhecedoras de termos acadêmicos.

Visando tecer uma possível solução para este impasse, pensou-se em transmutar algo tido como complexo, para uma abordagem mais simplificada; e com isso, ocorrer a possibilidade da discussão por um viés compreensível.

Desta forma, criando pontes de aproximação entre familiares, conhecidos, amigos e agentes sociais com os homens trans, que necessitam ser parte integrante da sociedade com todos os direitos assegurados.

Este livro tem como premissa, relatar o cotidiano dos homens trans, com o objetivo de aproximar pessoas que não sejam não transexuais, independentemente de serem heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, proporcionar aos leitores a ampliação acerca dos papéis, expressões e identidades de gênero, como também, salientar a importância de refletir a respeito da reprodução de estereótipos existentes quanto a masculinidade e também proporcionar ao leitor uma amplitude sobre os papéis sociais atribuídos a cada gênero.

Ilustrar que conceitos de auto identificação e de desejo sexual não podem ser ensinados, a exemplo do que é mostrado na comédia criada, escrita, dirigida e duplamente realizada pelo ator francês Guillaume Gallienne em “Eu, mamãe e os meninos”, lançado no Brasil em maio de 2014.

A película relata a trajetória de Guillaume, um menino que vivencia sua infância, adolescência e parte da vida adulta como homossexual, postura altamente efeminada, incentivado pela mãe que acredita em sua suposta homossexualidade.

A partir disso, ele vivencia uma longa e penosa jornada até descobrir seus questionamentos sexuais e o mais importante: conhecer seu verdadeiro eu, cem por cento masculino.

Relatar o sofrimento cotidiano dos homens trans quando tentam vivenciar relações amorosas e/ou sexuais, por serem constantemente questionados sobre a sua identidade de gênero.

Com isso, têm de explicar suas particularidades às pessoas que muitas vezes não irão entender o quanto são ignorados e rechaçados por amigos, conhecidos, os quais tinham contato antes da transição.

O permanente questionamento em relação à sua masculinidade, a incerteza de quanto são desejados por serem quem são, ou somente vistos como aquele “amigo diferente”, lidarem com a rejeição social devido à sua transexualidade, ouvir diariamente comentários maldosos envolvendo a ausência do pênis, entre outros caracteres masculinos tidos como padrões, e assim se a orientação sexual for distinta da heterossexual, automaticamente ter a sua identidade de gênero invalidada e o pior de tudo, quando afirmam que genitália não define gênero, lidam com deboches em redes sociais e na vida cotidiana.

Informar como frequentemente o meio social suprime o sujeito de expressar livremente o seu verdadeiro EU, e a sua forma de amar que, na maioria das vezes, acaba prejudicando o seu psicológico; levando à patologias psíquicas ou até ao suicídio. Fazer com que as vozes das personagens sejam uma espécie de porta voz do segmento de homens trans, que são invisibilizados e marginalizados por um ambiente extremamente hostil, a sujeitos que rompem com a norma vigente de masculinidade impostas de forma compulsória.

Um Casal Nada convencional ( trecho)

Estes percorreres por aí à balda, nestes saudosos antigos eus. Qual deles deixei no meio da estrada e em que sombra, e perseguem até onde sou? (Do poema “Corte em mim” de João Nery).

E o médico irritado volta-se para o paciente e vai logo vomitando: “Nenhuma psicologazinha vai me fazer receitar medicamentos, que possam “ferrar” meu paciente, detonando-lhe o fígado”.

Em seguida, pede vários exames e deixa Bernardo1* sem esperanças.

Ele morre aos poucos, quando tem consulta no clínico geral do Sistema Único de Saúde (SUS).

Passa por terapeutas e faz acompanhamento psicológico, tem realizado todos os procedimentos exigidos para que o médico possa-lhe passar a receita do medicamento de que necessita para continuar vivendo.

Para ser e para existir. Está no corpo de uma mulher, mas tem alma masculina, é menino no mais profundo espaço do ser.

Luta por conseguir gratuitamente a cirurgia que irá colocá-lo na sociedade com o sexo que sua alma tem.

Apaixonado por Armando, um garoto que também habita um corpo que não lhe pertence, Bernardo luta para existir.

O relacionamento entre 2 Bernardo e Armando, iniciou-se a partir de uma conversa no WhatsApp, no grupo “Transboy’s Bofes”, em que homens trans 3 , pessoas não binárias 4 e mulheres lésbicas bofes 5 , interagem.

Passavam horas falando no aplicativo e, com o tempo, resolvem se encontrar.

Hoje, fazem questão de evidenciar que estão juntos e como eles mesmos falam: “estão num rolo”.

É um relacionamento não aceito pela sociedade tradicional, ainda mais em se tratando de dois homens trans.

Bernardo cresceu num lar em que era visto por seus pais como uma menina bem masculinizada e que, com o passar do tempo, ele poderia agir como uma mulher delicada e prendada, assim como as irmãs.

Isso era esperado por sua mãe quando comprava vestimentas femininas e obrigava-o a vesti-las.

O sentimento de ojeriza e repulsa por ser entendido e socializado como mulher, perturba-o e faz com que se feche cada vez mais em seu próprio mundo.

Era sempre assim: brigas, gritaria e ofensas, o vocábulo “sapatão” habitava a casa e com frequência assombrava Bernardo.

Apesar de ainda morar com uma mãe rígida e um pai permissivo, ele está ciente de que, com o tempo, terá que enfrentar os familiares.

“Um episódio, em particular, marcou-me profundamente.

Ocorreu quando minha irmã disse que voltaria a morar com o marido. Estávamos jantando, minha irmã Marcela 6 , minha mãe e eu. Subitamente, ela diz que ama o ex-marido, que ele a faz feliz e que resolveram reatar o casamento”, diz Bernardo.

Aquilo é um soco no estômago do garoto, que sem saber lidar com a notícia, se vê perdido em seus pensamentos e fala:

“Deveria ser um pesadelo, só poderia ser um tormento”. Bernardo, quase que gritando, fala com Marcela: “Olha, nós a apoiamos em tudo, te imploro, não volte para este canalha que só te humilha; que expõe você e aos meus sobrinhos às agressões”.

Em meio às súplicas do irmão, Marcela zangadíssima se retira da mesa e sai em direção à sala. Ele sai atrás dela e quando chegam à garagem, Marcela joga coisas nele.

Apesar desse caos, Bernardo busca manter-se calmo, afinal, precisa convencer a irmã a não voltar com o ex-marido.

Usa todo argumento possível para alertá-la do quanto sofreria novamente, do quanto seus filhos eram agredidos fisicamente.

E, de repente, Marcela o interrompe com palavras duras e cruéis de se ouvir:

“Posso não ter o marido ideal, mas pelo menos não sou sapatão”.

Ela falara a palavra que paralisara totalmente o irmão, era mágica, os nervos se aquietaram, não conseguira mexer um músculo.

Bernardo não sabia o que fazer, sentia-se preso, e o coração parecia querer sair pela boca, não controlava a respiração que se atropelava na entrada e na saída de ar; sufocando-o. Procurou controlar a ansiedade e diminuiu o ritmo da respiração.

Foi quando conseguiu falar em som alto: “Sou o que sou, pelo menos não tenho um filho de cada pai, não tenho relações sexuais com qualquer um que aparece! Nesse momento, os vizinhos ouviram e saíram para assistir à discussão.

O escândalo havia saído de controle e quando ele percebeu, a irmã avançava em sua direção; os olhos faiscavam horror e ódio.

Começou a gritar que era “vadia”; e ela cara a cara com ele: “Sou vadia, e daí?”. Não aguentou e saiu cabisbaixo, triste e sem esperanças de ter uma vida normal, saudável e em harmonia Após esse triste relato, recordou da adolescência com certa nostalgia.

“Eu ia a muitos shows de rock. Tinha amigos que tocavam em uma banda, e eles se reuniam aqui dentro de casa ou no portão (às sextas-feiras), íamos à Praça Goiás para tocar violão, ficávamos cantando, bebendo, conversando até de manhã”.

Antes de se assumir como Bernardo, a bissexualidade era algo latente em Berenice: “Eu beijei uma garota quando era mais novo, depois beijei mais homens, mas mesmo assim, beijava meninas.

Quando eu tinha entre 15 e 16 anos, contei a meus pais que ‘ficava’ com meninas e meninos, porque para mim, no começo, aquilo não era certo. Na escola, as pessoas desconfiavam e perguntavam-me sobre; e eu dizia que já tinha ‘ficado’ com meninas e meninos”.

Bernardo acreditava que aquilo não era certo, mas por seus pais o perceberem como menina, jamais o restringiam de qualquer tipo de relação, por acreditarem ser só uma fase da descoberta no período da puberdade.

“Sempre vi somente casais heterossexuais expressando afeto publicamente, achei por muito tempo, que aquilo era o certo.

Porém, com o passar do tempo, vi que era livre para beijar quem eu quisesse”. Antes de conhecer Armando, ele teve outros relacionamentos que aparentemente, chegavam a durar entre 8 a 9 meses.

Há 3 anos, namorava Lorena7* , uma menina de Juiz de Fora (cidade de Minas Gerais), ele a conheceu pela internet.

O relacionamento durara nove meses e fora muito tranquilo. Pelo fato de Lorena ainda percebê-lo como uma “mulher masculinizada” praticamente, Bernardo não expressava a transmasculinidade.

Enfrentava oito horas de viagem em um ônibus para vê-la e ela também fazia o mesmo.

Bernardo e Lorena tiveram uma conversa decisiva a respeito do namoro, e ele tomou a decisão de que seria melhor terminarem.

E disse imediatamente: “Amor, sempre fui apegada a jogos, e uso o ‘Skype’ para conversar com amigos que jogam comigo e, por isso, nem sempre estou disponível para lhe dar atenção.

Mas isso não faz diminuir em nada o que sinto por você.

Termino o nosso namoro hoje, por simplesmente entender que; precisamos de espaço para viver nossas vidas, apesar de nos gostarmos muito. Entenda isso Lorena”.

Desesperada, a namorada implorou que a decisão fosse reconsiderada.

Porém, ele seguiu fi rme em seu propósito, mesmo com o coração partido.

“Mesmo diante desse turbilhão emotivo, foi a minha decisão, na época, para nós dois, porque estávamos em sintonias diferentes. Descobri que (na segunda-feira), após o nosso rompimento, ela dormiu na casa de outra mulher, que segue namorada dela até os dias atuais”.

Bernardo declarou que Lorena não sabia que também era bissexual e que, mais tarde, escolheria viver com uma mulher.

Depois desse relacionamento, teve pequenos casos, “fi cava” com um, dormia com outro, beijava esse, “ficava” com aquele.

E foi assim, até conhecer o ex-namorado, Amadeu*8 , em um estacionamento de um mercado em que estava com a Estela, sua melhor amiga e alguns amigos.

Quando se deparou com aquele homem de 1,90 de altura; forte, cabelos compridos bem escuros, barba falhada, viril e sorridente, nem imaginava que ele também era amigo de Danilo, mais conhecido por “Galinho”.

Sentimentos confusos multiplicavam-se na cabeça dele, e isso o inquietava.

Pois, habitar em um corpo feminino, tendo uma alma masculina e ainda sentir atração pelos dois gêneros de forma semelhante, era ter de lidar com situações preconceituosas a todo instante, e também, questionamentos turbulentos. Ele nem imaginava que sua vida mudaria radicalmente algum tempo depois, após um encontro casual em um estacionamento do lado de fora de um hospital.

Avistou aquele homem espetacular que lhe tinha chamado atenção tempos antes.

Passaram a conversar. Amadeu, ansioso, indagou acerca de ‘Galinho’. Bernardo, solícito, informou-o sobre o amigo:

“Olha, falaram que ele está em coma, por complicações em uma cirurgia de pedra na vesícula”. Os dias seguiram com o amigo em comum restabelecendo-se no hospital. Foram aproximando-se e, conforme as conversas seguiam, trocaram contatos.

Eles se falavam muito pelo “Facebook” e com o passar do tempo, passaram a sair em um estilo de relação casual.

O relacionamento tornou-se mais sério ao completarem quatro meses de namoro, na festa de casamento da irmã Rafaela*9 .

Amadeu pediu Bernardo oficialmente em namoro, em seguida, o pai disse que não; mas logo abraçou-o, mostrando que brincava.

E diante desse jeito, o namoro foi oficializado para toda a família. Bernardo ficou extasiado com aquela atitude, ainda que ele não fosse direcionado ao seu EU verdadeiro.

A partir daquele momento, vivia a felicidade extrema de estar ao lado do homem que tanto amava, mas em contrapartida, melancólico por não dividir com ele o seu maior segredo.

No dia seguinte, falou: “Bom dia! Lembra-se do que fez ontem? ”.

E ele abriu um sorriso e disse que sim.

Estávamos na casa dos meus pais, no quarto que dividia com a minha irmã do meio”, diz Bernardo.

Após um ardente e intenso ato sexual, houve uma conversa sobre transexualidade e Amadeu foi taxativo:

“São pessoas nojentas e doentes”. Essa frase dilacerou Bernardo de tal maneira que o deixou sem chão. “Mesmo depois daquela conversa horrível, arrisquei-me a ficar com uma pessoa que achava horrenda, por causa de minha condição por amá-lo intensamente.

Até que tudo mudou (num domingo), em que saímos eu, ele e mais duas amigas para tomar açaí”. Estavam na sorveteria tomando açaí, quando Bernardo questionou o namorado sobre o nome de uma garota desconhecida em seu “WhatsApp” e pediu para ver a conversa.

A todo instante, Amadeu desconversava, entretanto, essa história corroía e aniquilava o coração de Bernardo.

Quando chegou em casa, pediu o celular do amado, e ele se recusou a dá-lo, isso o deixou intrigado.

Os dias se passaram e ele o questionava, quando, finalmente, conseguiu o que tanto almejava, mas para a decepção de Bernardo, ao verificar a lista de mensagens, percebeu que as mesmas foram apagadas.

Aos gritos, indagou: “Por que apagou o histórico de conversas do ‘WhatsApp’, se não era nada demais, o que conversava com essa menina, hein? Jamais serei trouxa de ninguém! ”.

Bernardo contou que diante do questionamento, cinicamente, Amadeu lhe falou que havia flerte entre os dois e isso era algo natural no universo masculino.

Aquilo destruiu-o e feriu-o mortalmente.

Ficou em casa prostrado no sofá atônito (enquanto via Amadeu sair pela porta), revivia todos os momentos que passaram juntos e não conseguia entender as circunstâncias a que o levaram à traição, assim de uma maneira tão fria. Encerraram o relacionamento de oito meses, após esse lamentável incidente e nunca mais se viram.

Bernardo acreditava ter sido melhor assim, para não ser mais magoado por um homem tão mesquinho e machista.

Bernardo, apesar da pouca idade, teve diferentes experiências amorosas com homens e mulheres; com isso, pôde sentir como era em diferentes relações, envolvendo diferentes corpos e personalidades. Dessa forma, nos variados relacionamentos, entregou-se, intensamente, à experiência voluptuosa que é amar.

Os amores que regeram a vida desse jovem foram intensos, sem nenhum tipo de rotulação e nenhuma preocupação com o futuro, pois, em todas as relações; estar junto, independente de quanto tempo durasse a relação ou do que os outros pensassem, era realmente o essencial.

Atualmente, o que mais o inquieta é a sua vida profissional que está estagnada.

A única coisa capaz de lhe dar a paz de espírito nesses momentos de conturbação, é a fotografia de natureza morta e jogar videogames.

O interesse pela fotografia começou bem cedo, quando o pai pegou um papel sulfite e começou a explicar técnicas fotográficas.

Aquele momento foi decisivo para Bernardo nunca mais abandonar essa paixão, que lhe rende alguns trabalhos temporários em razão de cursos complementares realizados nas áreas de fotografia estúdio e iluminação.

O namorado Armando vive com a mãe, quatro tios e o irmão Gabriel (de seis anos), em um minúsculo apartamento, no bairro do Limão.

Ele nunca teve uma relação familiar de afeto e amizade.

Quando pequeno, presenciou a violência que a mãe sofria com o marido, padrasto de Armando. Na época, Armando gritava ao ver o padrasto batendo violentamente na mãe e ela não reagia diante de toda aquela violência, simplesmente chorava.

Em seguida, dirigia-se ao banheiro com o intuito de disfarçar as marcas de espancamento, para depois, continuar a vida. Toda vez que isso ocorria, Armando ficava assustado.

Em uma das cenas de violência, pôs a irmã no colo e foi para a casa da tia. Passou o dia com ela, mas tinha que voltar mais cedo ou mais tarde pra casa. Quando chegou à casa da mãe, o padrasto continuava a ameaçá-lo. Trancou-o no quarto e falou que mostraria para Armando que, na verdade, ele era mulher e iria estuprá-lo.

Ele estava todo nu e frágil, por ver aquele homem grande, forte em cima dele vociferando: “É hoje, que vira mulher, vou te mostrar o que homem faz com mulheres como você”.

Em pânico, ele só pensava que não tinha forças para lutar contra aquele brutamonte e suplicou aos céus uma solução mágica.

Aos prantos, implorou àquele homem: “Por favor, não faça isso comigo. Sou um menino e não uma menina.

Não me toque assim, isso me machuca e me dá nojo”.

Desesperado, inconformado por ser visto como menina e ainda ser tocado daquela forma abjeta, sentiu- se como um saco de lixo sendo lançado em um enorme aterro sanitário.

“Senti como se não houvesse mais pelo que viver e o meu corpo não respondia, estava todo travado, só desejava a morte”; desabafa Armando. Ao ouvir barulho de socos e pontapés vindos de perto da porta do quarto, Alexandre*10 ficou enraivecido e passou a chutar incessantemente Armando, para que ele seguisse desmaiado.

Até que a porta foi lançada ao chão por Hudson, primo do garoto. Armando relatou acerca do episódio, da tentativa de estupro sofrida pelo ex- padrasto: “Hudson*11 ter-me resgatado daquele quarto e me vestido um lençol, recuperou um pouco da minha dignidade, que havia sido usurpada”. Hudson intimou Alexandre, que como todo bom covarde, amedrontou-se pelo fato de Hudson ser mais forte e mais jovem do que ele.

O primo foi ao resgaste do menino, devido à tia já desconfiar das más intenções do odiável sujeitinho (de acordo com o Hudson), em uma conversa que teve posteriormente com Armando.

O sentimento de desprezo por seu padrasto é latente até hoje.

Ele relata que o principal incômodo nessa convivência familiar era quando…

Simplesmente homem — Relatos sobre a experiência cotidiana de homens trans traz seis histórias que visam desconstruir os padrões impostos de masculinidade, afeto e sexualidade vigentes numa sociedade cisgênera e heteronormativa. Este é o livro de estreia de Luiz Fernando Prado Uchôa, homem trans, gay, professor, palestrante sobre as temáticas de gênero e sexualidade e Coordenador do Núcleo de Transmasculinidades da Família Stronger.

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Simplesmente Homem: relatos sobre a experiência cotidiana de homens trans (metanoiaeditora.com)

Este é o livro de estreia de Luiz Fernando Prado Uchôa, homem trans gay, professor, palestrante sobre as temáticas de gênero e sexualidade e Coordenador do Núcleo de Transmasculinidades da Família Stronger.

1.Nome fictício

2. Nome fictício

3. São pessoas que foram designadas do gênero feminino no nascimento por possuírem características femininas. Mas, com o passar do tempo, passam a se identificar com o gênero oposto.

4. Indivíduos que não se identificam com o gênero masculino e nem com o feminino, preferindo uma neutralidade.

5. São garotas lésbicas que se vestem de uma forma masculina. Mas nem por isso deixam de reivindicar o gênero feminino.

6. Nome fictício

7. Nome Fictício

8. Nome fictício

9. Nome fictício

10. Foi usado nome fictício para esta personagem. Pois, a forte emoção contida no relato impediu que o verdadeiro nome fosse revelado.

11. Nome fictício

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