Verdade como Correspondência — Congruência — Intersubjetividade — Nietzsche -Kant -Hegel -Meillassoux- Analíticos.
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Verdade como Correspondência em Friedrich Nietzsche*
O presente artigo tem por finalidade apresentar um comparativo entre alguns aspectos da perspectiva analítico cognitiva e da abordagem a-cognitiva continental de Friedrich Nietzsche visando perceber como poderiam estas linhas de pesquisa inicialmente antagônicas se delinearem em conversação perante a percepção da verdade como correspondência. Para tal utilizaremos aspectos formais introdutórios sobre a teoria da verdade pela ótica de Susan Haack e suas relações com a concepção de verdade na filosofia ocidental em geral usando a abordagem de pensadores como Meillassoux. Nietzsche demarca um paradigma particular quanto a negação de um certo tipo de metafísica ligado ao raciocínio lógico, caracterizando-o como um tipo de ferramenta para se chegar a concepções estanques de verdade, que se apresentariam (segundo sua visão predominante) como morais e metafísicas. Faremos este comparativo tentando demonstrar se o filósofo da basileia realmente consegue manter a abdicação de um tipo de logicismo metafísico essencialista, digno de um cognitivismo, ligado a noção de verdade como correspondência durante seu desenvolvimento teórico, ou se há lacunas dentro de alguns textos selecionados (dele) que serão explorados perante seus ímpetos de negação lógica. No primeiro trecho examinaremos uma abordagem sobre a teoria da correspondência e suas verves principais diante de outros aspectos da filosofia em geral. Em um segundo momento examinaremos o perspectivismo e sua relação com a noção de verdade em Nietzsche. Em último momento verificaremos a aplicabilidade da noção de verdade como correspondência aos textos selecionados de Nietzsche, comparando-a a algumas abordagens de nietzschianos analíticos contemporâneos como A. Danto, M. Clarck e P. Poellner.
Palavras-chave nietzsche, verdade, correspondência
Abstract
The purpose of this article is to present a comparison between some aspects of the cognitive analytical perspective and the continental a-cognitive approach of Friedrich Nietzsche, in order to understand how these initially antagonistic lines of research could be outlined in the face of the perception of truth as correspondence. To this end, we will use introductory formal aspects of the theory of truth from the perspective of Susan Haack and its relations with the conception of truth in Western philosophy in general, using the approach of thinkers such as Meillassoux. Nietzsche demarcates a particular paradigm regarding the denial of a certain type of metaphysics linked to logical reasoning, characterizing it as a type of tool to arrive at watertight conceptions of truth, which would present themselves (according to his predominant view) as moral and metaphysical. We will make this comparison trying to demonstrate if the philosopher of Basel really manages to maintain the abdication of a type of essentialist metaphysical logicism, worthy of a cognitivism, linked to the notion of truth as correspondence during his theoretical development, or if there are gaps within some selected texts ( of him) that will be exploited in the face of his impulses of logical negation. In the first section, we will examine an approach to the theory of correspondence and its main verves in relation to other aspects of philosophy in general. In a second moment, we will examine perspectivism and its relationship with the notion of truth in Nietzsche. Finally, we will verify the applicability of the notion of truth as correspondence to selected Nietzsche texts, comparing it to some approaches by contemporary analytical Nietzscheans such as A. Danto, M. Clark and P. Poellner.
Keywords:Nietzsche, Truth, Correspondence
Introdução
Pensadores contemporâneos como Quentin Meillassoux e seu realismo especulativo abordam a questão da intersubjetividade(correlacionismo) como um tipo de paradigma cognitivo intensificado a partir de Kant que torna o uso da racionalidade sempre limitada quanto ao seu método de busca por uma verdade absoluta sempre como improvável, mesmo para filósofos como Hegel. Nosso objeto de estudo não é esgotar os aspectos formais da abordagem de Meillassoux. Mas gostaríamos de explorar algumas nuances derivadas desta colocação e pensar possibilidades que possam ser comparadas com o uso (ou desuso) da lógica na filosofia de Nietzsche. Por exemplo comparando-o com a teoria da correspondência que geralmente é interpretada como sendo um tipo de trivialidade. Vamos nos remeter aqui a um simplório uso do termo Veritas est adequatio intelectos usado por Tomás de Aquino, a partir dele podemos adentrar algumas colocações iniciais. Adaequatio supõe uma relação igual ou equiparável entre duas coisas, a unificação entre as noções de rei (coisa) e intellectus (intelecto). Considerando o termo Veritas et rei (verdade na coisa) podemos perceber que segundo esta interpretação que o termo se caracterizaria pela exigência de que a entidade da coisa se expresse como condição de possibilidade para que o intelecto se adeque a ela, este é um ponto de partida para uma condição de análise.
Porém podemos perceber, que supor que a entidade coisa se apresente como “a condição de possibilidade” para que o intelecto se conforme a ela geraria uma impossibilidade, a coisa natural não pode se oferecer como parâmetro de adequação ao intelecto. Dito de outra forma, seria pressupor que a coisa se adaptasse (em alguma medida) ao intelecto e seria desconsiderar que ao utilizar o termo (ou a linguagem) Veritas (na coisa),o sentido aplicado através dele se deslocaria, logo seria o intelecto projetivo que deveria se conformar a coisa, e não o inverso.
Porque um erro pequeno no princípio acaba por ser grande no fim, como afirma o Filósofo [Aristóteles] no livro I do tratado O Céu e o Mundo, e que o ente e a essência são o que o intelecto concebe em primeiro lugar, como escreve Avicena no começo da sua Metafísica, para que não nos aconteça cair no erro da ignorância, devemos, a fim de resolver a dificuldade, definir a essência e o ente e como se encontram nas diversas realidades e se relacionam com as intenções lógicas, a saber, o género, a espécie e a diferença. ( Tomás de aquino — os princípios da realidade natural)
Em suma, segundo Tomás a verdade deve ser a mesma para todos e a entidade coisa deve permanecer sendo a mesma, isto estaria de acordo (em termos) com concepção aristotélica de ser como verdade em sentido correspondente. Talvez Aquino estivesse dando mais um passo em direção ao pensamento analítico. Esta concepção em Tomás também nos remete a uma certa dimensão de imutabilidade da forma mundo em relação aos métodos investigativos racionais pressupostos pelo realismo especulativo de Meillassoux que se fixa na seguinte questão: Não é pelo motivo de investigarmos “o absoluto” que a nossa racionalidade apreenda de maneira exata a determinações e modificações provenientes da “totalidade”, entretanto a totalidade mesma deve ter uma certa “congruência” pois se tudo fosse devir, ou estivesse em transição absoluta, sequer seria possível abstrair algumas impressões sobre o mundo. Mas nem por isso deveriamos ficar impossibilitados de pensar especulativamente até mesmo criticamente o absoluto, como se supõe ou se atribui (muitas vezes erroneamente) aos pressupostos de alguns filósofos associados a filosofia nomeada de forma generalizada( que pagam certo tributo a kant) como “pós-moderna”. Tampouco poderíamos atribuir estes apontamentos(anteriormente suscitados) ou caracterizá-los como um tipo de ode a totalidade de uma racionalidade absoluta a moda hegeliana pois para Meillassoux pressupor que a racionalidade dê conta da totalidade pois o “real é racional e o racional é real” também seria uma forma de intersubjetividade (correlacionista) determinada, que limitaria o nosso próprio pensamento de pensar (conceber) o ainda não pensado inclusive cientificamente, mesmo que seja a partir de uma diferença contida no real ou como um suprassumido abstrato,(em termos hegelianos)vazio(aufhebung, suprassunção), por mais tautológico que isto pareça.
Duas breves definições do que viria a ser o correlacionismo se seguem agora, uma por Otávio Maciel em seu tratado de metametafisica, e um outro desdobramento a partir de Meillassoux
“Por correlação entendemos uma associação ontognoseológica que é traduzida, ressoada, abstraída do contexto produtor originário de algo que há em ontologia, na complexidade, no quotidiano. Esta conexão é caracterizada, no mínimo, por um princípio e um concreto; mas, obviamente, apenas uma matriz interprincípios e transobjetiva pode dar uma imagem de pixelagem mínima de qualquer coisa que se investiga. A correlação não é sem custos, não é sem perdas ou ganhos, não é “feita” da matéria estudada: o estudo e o objeto de estudo são mutuamente externos. A sofisticação da correlação é o que está em jogo. Assim sendo, objetos, sistemas e redes fazem correlações, produzem associações ontognoseológicas. Reduzem a realidade, operam estas reduções, acoplamentos, alianças, resistências. Sistemas como o direito ou a economia, a engenharia civil, a estética surrealista, castores nas represas e íons de cloro correlacionam-se com outras coisas, com tipos infinitamente variados de causação e preensão, de forma a articular, na suficiência da contingência, as suas necessidades contingentes”
“Não nos deixemos enganar: nenhum correlacionismo, por mais insistente que seja sua retórica anti-subjetivista, é capaz de pensar um enunciado diacrônico sem destruir seu verdadeiro sentido, e isso no exato momento em que afirma ter escavado seu significado supostamente mais profundo”. ( Meillassoux -After finitude)
Feitos estes apontamentos, então do que trataria finalmente a abordagem analítica? Alguns analíticos fazem um tipo de distinção específica do que seria a filosofia analítica. Desidério Murcho afirma que a filosofia analítica se propõe a analisar de maneira lógica(formal) o uso da linguagem em termos cognitivos de forma mais específica. Segundo ele os “filósofos analíticos têm tipicamente um interesse primariamente cognitivo nos temas que abordam e mesmo que o não tenham, os seus escritos são discutidos de um ponto de vista primariamente cognitivo” algo que pode ser interpretado como desinteressante, redutor por quem não esteja alinhado com a formação analítica. Tomaremos isso aqui como base. Voltando brevemente a ótica do diagnóstico correlacionista de Meillassoux, em termos gerais poderíamos em termos comparativos definir que tanto o exame metodológico analítico quando o realismo especulativo (de forma parcial obviamente) fazem uso de um exame crítico dos aspectos formais diante de epistemologias produzidas pela nossa cognição enquanto metodologia do raciocínio mesmo, explicitando certas inadequações e certos usos da racionalidade em relação ao que chamaremos aqui de congruência (do mundo)diante um certo sentido de correlação (intersubjetiva epistemológica). Segundo uma visão mais “realista” da perspectiva analítica as propriedades matemáticas pertenceriam às coisas como elas são em si mesmas, ao que elas são independentemente dos seres humanos, isso significa: para o que eles são independentemente, não apenas de nossas habilidades cognitivas, mas também de nossos interesses cognitivos. Meillassoux em certa medida admite esta dimensão matemática com a ressalva de que a matemática estaria circunscrita numa espécie de hyper-caos(que é um tipo especial de tempo, um tempo que inclui tanto a fixidez quanto a mudança, o ser e o devir) que não admitiria esta relação direta de congruência com o real mas sim diante de uma espécie de uso caótico da matemática de maneira transicional. Descartes e Galileu acreditavam inclusive que a ciência matemática nos daria a verdade que satisfaz em certo sentido a teoria da correspondência metafísica. Ambos negaram que o pensamento de senso comum baseado em uma percepção sensorial que parecia apoiar, por exemplo, a visão ptolomaica (defendida por meillassoux) pudesse fornecer tal verdade. Podemos acrescentar também que Frege que é um dos paradigmas da filosofia analítica e que se tornou um dos grandes opositores da questão da verdade como correspondência, tem como alvo qualquer tentativa de definição do que seria a verdade nestes termos, retomando uma reflexão parecida com a questão de Tomás, porém mais elaborada e complexa. O verdadeiro é o objeto da lógica para Frege porém ela não pode criar relação a não ser através do que ele chama de “leis do verdadeiro” (que a nosso ver não deixaria de exprimir um certo sentido de absoluto a moda fregiana). Estas leis deveriam ser de tal forma descritivas tais como as leis da natureza e haveria uma distinção clara aqui entre o que de fato é verdadeiro(lógica) e o que é tomado por verdadeiro(psicologismo)ou ainda diante sua distinção entre os conceitos mesmos(objetivos) e representações mentais (Vorstellung) subjetivas. Em termos metodológicos Frege almejara que seria possível um rigor lógico tal (conceitual objetivo) que poderíamos considerá-lo inerente a totalidade da natureza (algo que Meillassoux parece rejeitar fazendo alusão a uma matemática contingencial que faz um uso caótico — contingente, congruente desta metodologia) mas que haveria certas metodologias que se pretenderiam rigorosas, mas logo não passariam de abstracionismos vazios, ou com sentidos válidos parciais. Frege menciona ainda no que concerne a teoria da correspondência visando como alvo a verdade em geral que a verdade seria indefinível por tais parâmetros pois denotar-se-ia em certo sentido como conceito simples que grosso modo, são conceitos incapazes de analisarem outros conceitos e a si próprios colocando em evidencia sua teoria da indefinibilidade da verdade. Tendo ciência das colocações gerais de Meillassoux e Frege a estes aspectos relacionais da verdade e da verdade como correspondência, partiremos destas posições diante de usos fragmentários destas abordagens para provocar diálogo ao adentrar em uma avaliação mais geral da verdade como correspondência em Nietzsche, mantendo uma comparação com outros elementos. Primeiro entraremos em algumas especificidades da teoria da correspondência.
Panorama sobre Verdade e Correspondência
Tendo em vista as relações explicitadas anteriormente, diante de certas impossibilidades metodológicas levantadas perante este exame cognitivo da abordagem analítica e mediante usos específicos da nossa racionalidade, examinaremos uma concepção geral da teoria da verdade(correspondência) que tem por intuito definir grosso modo aquilo que se entende pelo predicado, se é verdadeiro e qual sua função em abordagens filosóficas, formais, lógicas ou científicas. A definição mais primaria de uma teoria da correspondência supõe que uma sentença tenha correlato no mundo e que a validaria como verdadeira ou falsa. Logo ela precisaria de dois elementos mínimos sentenças e coisas. Delineadas por alguns pontos fundantes que seriam; Como estas sentenças(proposições) correspondem ao mundo? Qual a natureza(lógica) destas proposições? Qual a natureza (ontológica) dos fatos? Porém antes devemos considerar um ponto de divisão importante entre estas formulações, que denotar-se-iam em torno da maneira de caracterizar a relação de correspondência, que dividiremos aqui em duas formas. A primeira forma (congruência) afirma uma identidade ou similaridade estrutural entre portadores de verdade e fatos, enquanto a segunda(correlação) negaria, defendendo que a noção de correspondência é puramente convencional, ou seja, o portador de verdade não emite a estrutura de um estado de coisas apenas relaciona-se com ele, logo a relação podemos dizer se constrói por bases linguísticas históricas. Independente das divergências entre estas duas abordagens ambas defendem que existem certas condições necessárias e suficientes (rigorosas) para que a noção de verdade seja satisfatória, ou seja, há existência de coisas independentes da mente e uma certa conexão entre portador de verdade e fato.
Mais uma questão importante; estes parâmetros avaliativos citados se denotam como metafísicos ou empíricos?(mesmo que sejam convencionais ou congruentes) Compreendemos que não são metafísicos no sentido dos medievais, que pressupõe um absoluto fundante ou fundamental. Entretanto ressaltemos antes que;
Susan Haack afirma que a verdade como correspondência apresenta-se originalmente fundamentada em: “um tipo de metafísica que admitiria a verdade como parâmetro e que se direcionaria por delimitações, que suscitariam formulações de condições necessárias e suficientes para poder vislumbrar o que seria a verdade em relação a um certo portador de verdade” como já citamos.
Estes parâmetros colocados até aqui então por (de maneira análoga) Aquino, Frege, Meillassoux e Haack englobam um certo modo de filosofar que se propõe a analisar as condições de análise da própria filosofia em termos cognitivos e suas minúcias, ou seja, as condições de possibilidade de se lançar para além da história, em certa medida, (inclusive diante de uma certa epistemologia da história) ou independente dela em certo sentido dispondo de uma analítica do raciocínio ele mesmo (metafísico?) Ou intersubjetivo?.Denota-se aqui intersubjetividade como um paradigma intensificado a partir de Kant que ao mesmo tempo limita as condições de possibilidade da racionalidade e ao mesmo tempo provoca demasiada superestima da mesma(vide Hegel como reação ao kantismo em certo sentido também os analíticos). Gostaríamos de abrir parênteses importante aqui, na Fenomenologia do Espirito Hegel ataca veementemente o formalismo especificamente o formalismo cognitivo kantiano que está calcado em certo sentido em uma análise formalista da cognição inclusive como reverberação ética e moral que não levaria em consideração a inadequação destes aspectos formais para analisar o processo imanente do real enquanto suprassunção..
“Ainda mais: tal formalismo sustenta que essa monotonia e universalidade abstrata são o absoluto; garante que o descontentamento com essa universalidade é incapacidade de galgar o ponto de vista absoluto e de manter-se firme nele” ( Hegel — Fenomenologia do espírito- [Dabei behauptet])
O que Hegel pretende postular aqui é que os formalismos se tornam inócuos por mais bem intencionados que sejam, ou por mais “racionalizáveis” que pareçam, eles não apreendem o movimento do real e se tornam fixados apenas em uma metodologia de análise cognitiva estanque. Entretanto o que se faz visível aqui a partir de uma critica do realismo especulativo é que esta pretensão de inerência de Hegel da racionalidade no real também se perfaz tão intersubjetiva como reação a kant quanto os formalismos lógicos cognitivos da filosofia analítica atual e do kantismo.
Colocados mais estes pontos podemos desenvolver alguns aspectos que sirvam de parâmetro comparativo em direcionamento a abordagem da verdade e do julgamento do pensamento lógico-analítico relacionando-o a Nietzsche nos trechos posteriores. Seria possível estabelecer uma relação da verdade como correspondência diante de alguns dos elementos apresentados inicialmente, explorando fragmentos do pensamento de Nietzschiano? O que se torna importante para nosso pensador da basileia e para nossa avaliação proposta aqui a partir de todos estes pensadores, estaria as luzes de uma crítica a metafísica (em suas variações) em contraponto a uma analítica dos parâmetros cognitivos (ou a-cognitivos no caso de Nietzsche) envolvidos em discussões gerais sobre filosofia analítica e continental. Seriam os fatos verdades (mesmo que por similaridade, aproximações, congruência) ou apenas interpretações (convencionais, correlacionistas?). Em resumo Nietzsche consegue se posicionar e sustentar uma posição antagônica a noção de verdade como correspondência intersubjetiva e correlacionista tais quais seus alvos? Tentaremos checar, mas primeiro examinaremos a questão perspectivismo em Nietzsche.
Nietzsche e Perspectivismo
A contragosto do autor conceberei um ponto de referência epistemológico que nomearei de perspectivismo. Precisarei antes definir grosso modo genealogia e perspectivismo para seguir o comparativo epistemológico em relação as teorias de correspondência. Nietzsche diante do ponto de vista lógico (ou poderíamos dizer ilógico) não parte da concepção de que o conhecimento estaria reduzido a perspectiva humana e cognitiva não necessariamente se contrapondo a abordagem analítica. Ao chamar o conhecimento de “perspectiva”.
Existe apenas uma visão perspectiva, apenas um “conhecer” perspectivo;e quanto mais afetos permitirmos falar sobre uma coisa, quanto mais olhos, diferentes olhos, soubermos utilizar para essa coisa, tanto mais completo será nosso “conceito”19 dela, nossa “objetividade”. Mas eliminar a vontade inteiramente, suspender os afetos todos sem exceção, supondo que o conseguíssemos: como? — não seria castrar o intelecto?…( GM -3 -12)
Nietzsche usa uma espécie de metáfora imagética para dizer algo sobre o conhecimento. Sua afirmação estabelece uma analogia entre ver e saber exatamente como imagem. Tanto a metáfora quanto a comparação nos induzem a notar semelhanças entre coisas que são diferentes em outros aspectos.
Em paralelo a isto Nietzsche em a Genealogia da moral nos provoca a conceber a produção das concepções cognitivas e filosóficas (científicas etc.) não como a-históricas, mas como produzidas historicamente. Entenda-se aqui uma série de fatores que constituem a noção de história em Nietzsche não como pura repetição de fatos dados, mas diante de uma genealogia.
Em Nietzsche genealogia ou o método genealógico erigir-se-ia diante de seu modo de observar a vida como uma guerra incessante que almejaria a sobrevivência e que teria suscitado o surgimento do conhecimento como o concebemos, em termos predominantemente racionais, sendo atravessado por um tipo de artifício prático, através do qual os organismos em geral se moldariam e manipulariam suas relações tendo por finalidade atender suas concepções vitais.
Ademais para sobreviverem, os seres vivos precisaram organizar a realidade de acordo com determinadas necessidades. Neste “ordenamento”, eles tiveram, por exemplo, que descartar as diferenças inclusive das perspectivas cognitivas entre os indivíduos próximos e compreendê-los- como idênticos. Em A gaia ciência 111 ele diz;
“De onde nasceu a lógica no cérebro humano? Do ilogismo, certamente, cujo domínio, primitivamente, deve ter sido imenso. Uma multidão de seres que raciocinava de maneira completamente diversa da nossa atual desapareceu; a coisa parece cada vez mais verdadeira.”
Segundo Cláudio Costa a concepção de verdade em Nietzsche é regida por uma espécie de teoria pragmática e social relativista ou perspectivista, ou seja, uma teoria seria verdadeira se e somente se for útil para uma certa tipologia de ser humano. De fato, Nietzsche compõe uma espécie de diferenciação entre um tipo saudável fisiopsicológico que afirma a vida e um tipo doentio (ambos dotados de vontade de potência) que nega a vida, que vai posteriormente suscitar outros desdobramentos.
O critério da verdade em Nietzsche poderia ser interpretado pela ótica de intensificação da vontade de potência que é uma espécie de elã vital que busca expansão em todos os seres vivos.
Logo também a estruturação do conhecimento baseado na expressão da vontade de potência estaria em certo sentido assentado na correlação. Porém para Nietzsche o objetivo do conhecimento e da estruturação lógico cognitiva não seria necessariamente uma busca pela verdade mesma ou pelos melhores argumentos, mas uma espécie de busca pela dominação tornada demasiadamente sofisticada e racional ou na linguagem do mesmo profunda.
O próprio ato de supor buscar por “melhores argumentos” ou inerentes ao real ordenado logicamente seria movido por este ímpeto de sobreposição.
A estruturação do conhecimento diante do aspecto cognitivo seria movida por esta intensificação da necessidade de expressão da vontade de potência que pode ser reprimida ou expandir-se.
Ainda em A Gaia ciência 111:
“E era essa inclinação predominante que levava a tratar as coisas que se pareciam como se elas fossem iguais, inclinação ilógica, contudo — porque, em si, não há duas coisas que sejam iguais — foi essa inclinação que primeiro forneceu a base de toda a lógica.”
Logo podemos observar que esta ótica da verdade em Nietzsche suscita uma interpretação que tem certa inclinação para uma relação de correspondência, ou como correlação.
Ainda em A Gaia ciência 111;
“Do mesmo modo, para que nascesse o conceito de substância indispensável à lógica, ainda que estritamente falando nada de real lhe corresponda, foi necessária que se não visse, nem sentisse, durante muito tempo o que há.”
Colocados estes trechos, se pudéssemos conceber as concepções de verdades como demasiadas ficções a negação da verdade como correspondência em Nietzsche se sustentaria? Acreditamos inclusive que a abordagem analítica (de forma predominante) poderia responder à questão da redução metodológica feita por Nietzsche em outros termos. Os analíticos se apresentariam como demonstradores das impossibilidades ou probabilidades subjetivas mediante especificidades das análises cognitivas inclusive se contrapondo a uma pretensão de determinação metodológica que suscite verdades absolutas (metafísicas) ou morais centradas no homem calcada na noção de vontade de potência.
Supondo estas especificidades como um suposto marco zero das análises das coerências e conceitos cognitivos lógicos ou de concepções correspondentes de verdade criaríamos maneiras de analisar a própria construção destas noções epistêmicas e cognitivas e mediante as próprias impossibilidades da subjetividade humana enquanto uma pretensa intersubjetividade epistemológica demasiadamente racional ou diante uma racionalidade absoluta como supôs Meillassoux.
O próprio perspectivismo vem sendo aproximado de uma forma de conceber conectivos lógicos perante a ótica analítica que se interessa pelo pensamento de Nietzsche como exemplificaram Hales e Whelshon. Então seria possível Nietzsche ser um grande negador da possibilidade da verdade como correspondência? Ou teria ele mesmo superado (ou pretendido superar) esta questão em determinados momentos de seus livros? Poderíamos compreender que o próprio perspectivismo nos fornece fortes evidências contra a afirmação de que ele teria superado a sua negação inicial da verdade. Considerando inclusive certas analogias e usos do pensamento de Nietzsche por possibilidades lógico-formais( que não termos com desdobrar completamente neste artigo). Abordaremos por conseguinte a questão da teoria da verdade em alguns sentidos teóricos, mais especificamente no que tange a teoria da correspondência as luzes de analíticos nietzschianos. Esta relação mais específica diante destes analíticos intitulados nietzschianos vai suscitar problematizações de forma mais sutil e recortada pra o nosso intuito a partir de alguns momentos das obras (inclusive já postulados) do pensador alemão da basileia.
Teoria da correspondência em Nietzsche
Arthur Danto interpreta a negação da verdade em Nietzsche como uma rejeição enganosa da teoria da correspondência. Segundo ele a teoria da correspondência, diante daquilo que ele identifica como a compreensão convencional da verdade como “expressando o que é o caso”.
Nietzsche aceitaria na realidade segundo ele diante de um tipo de teoria pragmática de que a verdade nada mais é do que“ facilitação da vida”(como vimos anteriormente) porém acreditaria também que “nada é verdadeiro e tudo é falso” se usarmos “verdadeiro” em um sentido convencional, no sentido mais comum de correspondência que seria o sentido pelo qual Nietzsche empregaria e negaria que quaisquer crenças sejam por si só verdadeiras enquanto valores essenciais ou intrínsecos a uma ideia de natureza humana estanque, mas compreenderia ainda que as próprias crenças humanas seriam verdadeiras diante de projeções de afetividades (isto é, aquelas que facilitam a vida) que corresponderiam ao real.
Arthur Danto acrescenta ainda que esta interpretação salvaria a negação da verdade em Nietzsche das objeções mais óbvias ou de uma negação da ideia mais fundamental de correspondência. Mas em certo sentido isto parece indefensável. Se considerarmos que a facilitação da vida está orquestrada por este “sentido utilitário” de potencialização da sobrevivência ou da felicidade ou talvez diante de um tipo de regulação mediante a vontade de potência, por qual motivo um tipo de crença falsa ou não justificada não poderia nos tornar tão felizes ou potentes tais quais crenças justificadas?
O problema com essa visão influente da verdade é que ela parece levar Nietzsche a uma autocontradição sem esperança. Há, em primeiro lugar, o problema da autorreferência.
Se é suposto ser verdade que não há verdade, então aparentemente há uma verdade afinal; e se não é suposto ser verdade, parece que não temos motivos para levá-lo a sério, isto é, aceitá-lo ou suas supostas implicações.Nietzsche em Sobre verdade e mentira no sentido extramoral:
“Só esquecendo o homem pode chegar a imaginar que possui uma “verdade” no grau que acabamos de observar. Se você não se contentar com a verdade na forma de uma tautologia, isto é, com cascas vazias, então você trocará continuamente ilusões por verdades. “
Não consideraremos neste momento as tentativas de responder a tal objeção, pois mesmo que o pudéssemos fazê-lo, provavelmente uma outra objeção igual ou ainda pior iria instaurar-se. Entretanto apesar do foco de suas afirmações sobre a verdade, poucos negariam que a importância última de Nietzsche está ligada ao que ele tem a dizer sobre valores, especialmente ao desafio que ele oferece aos valores recebidos.
Seu desafio aos valores recebidos e às opiniões recebidas sobre os valores parece se basear em afirmações como as tais: que a moralidade é uma expressão de ressentimento e de negação da vida; que a própria vida é vontade de poder; que filosofia, religião e moralidade estão entre as formas mais refinadas dessa vontade; que a civilização ocidental está em greve perigo com a morte de Deus e o niilismo fadado a surgir dela.
Não será nossa questão aqui explicar exatamente como tais afirmações desafiam os valores estabelecidos, mas parece claro que elas não podem fazê-lo a menos que sejam consideradas verdadeiras logo em certo sentido por correlação, intersubjetividade ou ainda correspondência. (mesmo que por negação da verdade substancial metafísica ou demasiadamente racional). O que Nietzsche faz é justamente fundamentar explicitamente sua negação da moralidade na afirmação de que a moralidade é baseada em uma espécie de erro, mesmo que por uma contestação das concepções metodológicas que a seu ver parecem estanques e metafísicas, mas ele mesmo não pode fazer suas críticas sem ao menos em certa medida ceder a elas.
Todavia citemos outras questões sobre a verdade como correspondência que traduz algumas noções interpretativas tradicionais diante das apropriações feitas das obras de Nietzsche, por exemplo a interpretação de Kaufmann também utilizada por Wilcox em contraponto a abordagem metafísica de Heidegger, digamos que estas foram as abordagens dominantes acerca da questão da verdade em Nietzsche diante de aspectos gerais da perspectiva analítica e continental. A dicotomia suscitou uma alternativa, ou algo no meio destas interpretações.
Kaufmann tenta demonstrar que a contradição da posição da verdade em Nietzsche é apenas aparente e que Nietzsche não nega a existência da verdade mesmo não apresentando uma teoria metafísica, Kaufmann tenta explicar que a aparente negação da verdade em Nietzsche é na realidade uma negação do que ele chamava de mundo verdadeiro ou mundo das ideias platônicas ou ainda podemos dizer de o mundo kantiano (cognitivo) da coisa-em-si. Citamos Nietzsche em Sobre verdade e mentira no sentido extramoral mais uma vez:
Qual é a verdade então? Uma multidão comovente de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas que foram aprimoradas, extrapoladas e adornadas poeticamente e retoricamente e que, após uso prolongado, um povo considera firmes, canônicas e vinculantes; verdades são ilusões que foram esquecidas que são; metáforas desgastadas e sem força sensível, moedas que perderam a estampagem e agora não são mais consideradas moedas, mas como metal.
O Nietzsche de Kaufmann nega a possibilidade de uma verdade em correspondência com uma transcendência ou com uma metafísica (tradicional) aludindo a um alcance por parte destas teorias a revelação das coisas mesmas. O que nos parece plausível diante das colocações inciais que fizemos das abordagens especialmente frege) intermediados pelo realismo especulativo de Meillassoux. Podemos observar que mesmo a mais pretensiosa teoria analítica que se pretenda erigir métodos científicos rigorosos mediante a análise cognitiva dos argumentos termina sendo imbuída de certas características metafísicas. Por exemplo quando frege admite a existência do conceito mesmo em relação a sua representação (Vorstellung) há uma dimensão ontológico metafísica neste pressuposto, mesmo que ele assuma uma concepção geral que admita a impossibilidade de uma indeterminação da verdade por parâmetros analíticos.
“Se alguém reconhece algo como verdadeiro, então faz um juízo. O pensamento é o que ele reconhece como verdadeiro. Não se pode reconhecer um pensamento como verdadeiro sem antes apreendê-lo. Um pensamento verdadeiro já era verdadeiro antes de ser apreendido por alguém. Um pensamento não necessita de um ser humano como portador. O mesmo pensamento pode ser apreendido por diversos seres humanos. O julgar não modifica o pensamento reconhecido como verdadeiro”. Gotlob Frege — Minhas concepções lógicas
Entretanto parece que o próprio Nietzsche não fica fora destas impossibilidades através de alegações que supostamente correspondem à realidade, parece implausível negar certo caráter metafísico de noções como à vontade de potência (mesmo que em um sentido ético) diante de uma certa “correspondência” metafísica com a realidade (não necessariamente em sentido heideggeriano). Mesmo que por negação ou por um suposto ímpeto de superação destas concepções teóricas, Nietzsche assume pressupostos baseados em uma impossibilidade de negação da coisa em si tendo em vista que a noção de perspectivismo está calcada em um falseamento da realidade, ou ainda em uma interpretação contínua que parece pouco saber da realidade mesma (o que não é problema algum para ele). Mas em suma acabam se tornando alegações que supostamente correspondem em certo modo à realidade e nos parece implausível negar um certo tom metafísico nestas contestações sobre a verdade. Agora seria uma metafísica alinhada com a tradição como supôs Heidegger em certa medida? Suspeitamos que não, mas não desdobraremos esta questão aqui. Porém desde o início nos parece que Nietzsche tenta combater mais do que a verdade metafísica ou a coisa-em-si. Além disso, em muitas passagens Nietzsche claramente rejeita as chamadas verdades em geral supondo que são, portanto, realmente ilusões, pois implicam uma existência substancial das coisas. Apesar de Kaufmann afirmar que Nietzsche rejeitaria apenas a verdade como concepção metafísica e não empírica, indo além ele afirma que Nietzsche concebe a fé na verdade como justamente um tipo de afirmação da validade argumentativa da existência do ideal ascético como constatação empírica de uma construção ou orientação metafísica, por conseguinte no combate a construção de uma subjetividade ou de subjetividades calcadas neste parâmetro, entretanto a partir desta colocação Kaufmann acaba se tornando incapaz de explicar os escritos que transmitem a crença de que Nietzsche diz algo sobre a implausibilidade da verdade neste mesmo sentido empírico, e isso o colocaria em desacordo com a tradição filosófica(em geral) rejeitando todo o tipo de verdade. Precisaríamos aqui fazer uma crítica do sentido de empirismo que Kaufmann pretende usar, entretanto por não termos espaço o suficiente nos limitaremos a dizer o seguinte: tais quais todas as colocações postuladas acerca da verdade como correspondência a partir do sentido lógico tradicional de verdade a partir de alguns autores citados aqui como Meillassoux, Hegel e Frege estes mesmos também apresentaram uma crítica (cada um a seu modo) as substancialidades de um certo tipo de empirismo (assim como o próprio Nietzsche) que compartilham a nosso ver uma crítica geral a um tipo de reducionismo metodológico(Frege),material(Meillassoux),biológico, vitalista(Nietzsche) ou ainda formal(Hegel). Por conseguinte, Wilcox concorda em termos com Kaufmann que muito da aparente negação da verdade por Nietzsche é apenas uma negação parcial dela, como já citamos Nietzsche também era crítico de um certo tipo de empirismo reducionista cientificista, mas não era contra a ciência até se valia dela em vários aspectos, mas não de uma maneira estanque como podemos ver neste trecho de comentário que o próprio faz no final da primeira dissertação da Genealogia da Moral:
“É igualmente necessário, por outro lado, fazer com que fisiólogos e médicos se interessem por este problema (o do valor das valorações até agora existentes): no que pode ser deixado aos filósofos de ofício representarem os porta-vozes e mediadores também neste caso particular, após terem conseguido transformar a relação entre filosofia, fisiologia e medicina, originalmente tão seca e desconfiada, num intercâmbio dos mais amistosos e frutíferos. “
Em conclusão podemos nos tornar porta-vozes através de algumas colocações críticas de Heidegger análogas ao que estamos tentando expressar ao longo do texto, contidas em Nietzsche I e II que afirmam (em geral) que a noção de verdade como metafísica em Nietzsche que tratamos no último momento do texto em paralelo a tudo que já foi esboçado, sobre aspectos formais e conceituais da verdade, diante da vontade de poder que se relaciona diretamente com o perspectivismo(conceito central aqui) estaria permeada de comparativos correspondentes ou ainda necessitaria da verdade como correspondência em sentido tradicional. Citamos Heidegger:
“Nietzsche concebe a verdade como um tomar-por-verdadeiro, isto é, como um conside-rar-como-sendo, como um valor necessário, ainda que não como o valor supremo. “( Heidegger- Nietzsche I)
Por mais que não se aceite(predominantemente) as colocações que Heidegger faz a Nietzsche como último metafísico assentado na tradição, Heidegger escapa propositalmente às dificuldades da interpretação empirista apenas ao custo de não fazer nada para dissolver as aparentes contradições nas posições de Nietzsche sobre a verdade e a metafísica. O Nietzsche de Heidegger permanece preso na rede da teoria da verdade por correspondência, mas acreditamos que podemos extrair um certo elemento, que seria admitir um certo tipo de metafísica (presente em todo tipo de pensamento abstrato mesmo com orientação material) que leve em consideração, questões análogas as colocações gerais postuladas diante da verdade como correspondência(mesmo por oposição) sobre a essência e a existência do que é. Que estariam circunscritos inevitavelmente em todas estas contraposições teóricas que foram esboçadas mesmo que parcialmente no texto, chamemos isto de correlacionismo (realismo especulativo), verdade como correspondência, crítica a noção de totalidade, metodologia analítica, intersubjetividade ou ferramentas formais de análise cognitiva.
Referências
FREGE, G. 1879. Begriffsschrift (Nebert); trad. inglesas em HEIJENHOORT, 1967a, e em BYNUM, 1972.
HALES, S. “Recent work on Nietzsche”. In: American Philosophical Quarterly. Chicago, v. 37, n. 4, out. 2000. Disponível em: http://www.bloomu.edu/depart-ments/philosophy/pages/content/hales/hales.html.
HALES, S; WELSHON, R. Nietzsche’s perspectivism. Urbana/Chicago: University of Illinois Press, 2000
Meillassoux, Quentin (2014–12–10).Tempo sem se tornar (Locais Kindle 312–314).Mimese Internacional. Edição Kindle